“Me sinto muito orgulhoso em poder representar a categoria da enfermagem sergipana”, Coren-SE entrevistou o primeiro Enfermeiro sergipano a servir pela segunda vez na missão com os indígenas Yanomami


31.03.2023

Abraçar missões também faz parte da vida de um enfermeiro. O Enf. Marcos Fonseca sabe muito bem disso. Pela segunda vez ele topou abraçar a missão de servir na força-tarefa dos atendimentos aos indígenas Yanomami, ao lado da equipe da Força Nacional do SUS. Um trabalho voluntário, mas com um valor indescritível para Marcos. Essa já é a sua quinta missão voluntária pela Força Nacional, ele já participou de duas missões no Acre, uma na Copa das Confederações e agora vai pela segunda vez servir na missão com os indígenas Yanomami.

Antes de embarcar na sua segunda missão com os Yanomami ele conversou com a equipe do Coren-SE, contou como foi que surgiu a oportunidade e como foi todo o processo enquanto esteve em campo. “Quando eu vi que a Força Nacional do SUS iria atuar novamente nessa missão dos Yanomami eu me interessei e fiz nova inscrição, fiz novo cadastro. E assim, na mesma semana que eu fiz o cadastro, eu fui chamado para viajar, acho que três ou quatro dias depois. Viajei, ficamos dois dias em Boa Vista, onde a gente teve algumas conversas com antropólogo, tratamento de malária, enfim, algumas situações que a gente poderia vivenciar lá.”, relatou o enfermeiro.

Ele contou também como foram as instalações por lá: “Eu fiquei baseado no polo de Surucucu. Quando eu fui, foram nove equipes, então foram nove polos diferentes. O polo de Surucucu é aquele polo que passa muitas imagens de lançar para a queda com suprimentos, que tem a pista de pouso, enfim. Lá funciona como um polo base, ou seja, os casos mais graves migram para lá. No polo eu fiquei oito dias, porque nós perdemos um dia por conta do mau tempo lá. Então os voos são voos que não funcionam com aparelho, então são aviões pequenos, então se estiver chovendo muito, o tempo que estiver fechado, não tem nem como decolar de Boa Vista para lá. Fica mais ou menos 300 quilômetros, uma hora e meia de voo. Aqueles aviões papatango, que comportam cinco pessoas. Chegando lá, a gente se apresentou para a equipe, que trabalhava lá em Surucucu, nós colocamos a disposição.”

O enfermeiro fez parte de uma equipe de profissionais muito competente e justos enfrentaram grandes desafios. Ele contou sobre a situação difícil e que muitas vezes tinham horário de saída para os atendimentos, mas não faziam ideia do horário de retorno. “A nossa equipe era composta por dois enfermeiros e um médico. A médica era do Acre, a outra enfermeira era de Minas Gerais, e eu. Então nós ficamos lá oito dias. Nós atendemos, basicamente, casos de malária, malária grave. Inclusive, desnutrição, desidratação, muita gente com fome, muita indígena com fome, casos de diarreia e casos de verminose. Nós tivemos quatro atendimentos por trauma, vítimas de ferimento por arma de fogo, que a gente foi resgatar na floresta, junto com o pessoal do exército. Então, assim, a gente tinha horário de começar, mas teve dias que a gente trabalhou até oito horas da noite, porque sempre chegando gente, sempre chegando gente. Era um povo que tinha uma estrutura mínima. Não tínhamos laboratório, o único laboratório que a gente tinha era o laboratório para identificação de malária, né? Até porque os casos que a gente achava mais grave eram transferidos para a Boa Vista, a gente só necessitava aeronave, e eram transferidos para a Boa Vista. Nós tivemos, acho que seis ou sete casos mais graves que precisavam ser de remoção para a Boa Vista, casos bem graves que precisavam ser de remoção para a Boa Vista. E eram dias bem intensos. A gente fazia de tudo lá, não só a área de saúde. Então, por exemplo, se precisasse pegar peso para transportar equipamento, a gente pegava, a gente ajudava na cozinha, porque as pessoas lá… Existia um grupo de pessoas que trabalhavam lá, que eram profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, agentes de saúde, né? Então, tudo que era feito no posto era feito por essas pessoas. Então, a gente não tinha, por exemplo, uma pessoa da zeladoria, da limpeza, uma pessoa para a cozinha, não. Então, a gente era responsável por isso tudo.”

Apesar de todos os desafios enfrentados, o enfermeiro sente-se feliz em poder ter levado um pouco da enfermagem sergipana para o povo indígena tão necessitado nesse momento e ele diz que ficou orgulhoso em representar a classe da Enfermagem. “Primeiro que foi um prazer e um orgulho poder participar dessa missão. Se pudesse participar novamente, em 15 minutos para arrumar a minha mochila, eu arrumaria tranquilamente e não pensaria duas vezes. Segundo eu tive muito apoio da família quando eu falei que iria meus filhos e minha esposa. Acho que você se identifica muito com esse papel e saber que você está representando o estado, saber que você está representando uma categoria que está lutando por salário agora por um piso que é o que a gente tem no momento, mas é aquele que a gente precisa, o que a gente merece ter. Eu acho que vale muito a pena, né?! É um trabalho voluntário, então, acho que a nossa vida também faz parte desse tipo de trabalho. É um trabalho que dá prazer. A gente não vai pensando no que a gente vai receber financeiramente.”

Ao final de tudo isso, Marcos contou qual o sentimento que fica após a sua primeira missão com os Yanomami, contou dos desafios que o povo indígena ainda enfrentará nos próximo meses. “É um misto de felicidade, porque eu pude ajudar lá, e de impotência. Porque a gente saiu, outras equipes vão sair e esse problema vai perdurar por algum tempo. As informações que eu tenho é que os profissionais de saúde vão permanecer por mais tempo e está se criando uma certa estrutura de atendimento nas unidades de saúde no território indígena. O território indígena e Yanomami são 9 milhões de hectares, então é quase o tamanho do estado de Pernambuco. Então, está se criando uma estrutura mínima de laboratório, de ultrassonografia nas unidades de saúde. Isso dá uma segurança pro profissional, médico, profissional, enfermeiro, as equipes, a equipe de enfermagem, as equipes de saúde que estão lá. Essa informação que eu tenho, mas ainda continua muita demanda. E não é só o trabalho da saúde que vai mudar a perspectiva deles. É reintroduzir o indígena no seu meio. Pra que eles continuem fazendo o que eles faziam anteriormente, que é pescar, caçar, plantar, viver em harmonia com a natureza. Simplesmente viver, o básico.

Antes de viajar pela segunda vez, ele deixou um recado aos colegas que sentem o desejo de serem voluntários: “Ah, essas causas não tem preço! Eu tenho 56 anos, tenho 32 anos de formado, então poderia muito bem estar na minha zona de conforto. Não sair da minha zona de conforto. Daqui a pouco estou me aposentando, mas acho que sempre tem algo a mais que você possa fazer. Aos colegas que pensam, não pensem duas vezes, pensem e façam.”

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