Hospital do SUS reduz episiotomia ao tirar médico do parto normal


13.11.2014

O hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte (MG), conseguiu reduzir drasticamente o número de episiotomias – corte feito entre a região do ânus e da vagina durante o parto normal – nos últimos 12 anos. O procedimento, que estava presente em 60% dos partos em 1992 é de apenas 4% neste ano.

O diretor clínico do hospital, João Batista Marinho de Castro Lima, atribui o sucesso a uma mudança de prática na unidade: enfermeiras obstetras acompanham os partos normais e não mais os médicos. “Os dados mostram que a queda mais drástica nas episiotomias ocorreu entre os anos de 1998 e 1999 quando colocamos enfermeiras em todos os plantões. Caímos para 10%”, explica. Segundo ele, após a prática deixar de ser rotineira, as lacerações são mais frequentes, mas a maioria de primeiro grau, ou seja, mais simples do que uma episiotomia que é uma cirurgia que provoca uma laceração de, no mínimo, segundo grau.

Para o médico, os médicos não foram formados para atender um parto normal sem episiotomia. Segundo ele, é o que se aprende nas residências médicas e foi o que ele aprendeu também. “Os médicos não são maus. Todos que estão fazendo [a episiotomia] acham que estão fazendo em benefício da mulher. Mesmo com o conhecimento de evidências de que a prática não é necessária, a mudança de prática é difícil. A forma de mudar a prática é no processo de formação”, relata o médico. Segundo ele, os residentes do Sofia Feldman não fazem episiotomia.

Os dados foram passados por Lima durante uma audiência pública realizada na tarde de quinta-feira (23/10) no Ministério Público Federal. O evento, que lotou o auditório, foi feito após a Procuradoria instaurar um inquérito civil para apurar a violência obstétrica e notar que a episiotomia está presente em boa parte das denúncias.

“As mulheres não estão satisfeitas como o nascimento está sendo feito no Brasil. Os médicos precisam pensar em como mudar a realidade e precisam estar envolvidos nessa discussão”, disse a procuradora Ana Carolina Previtalli Nascimento. Para ela, mesmo as mulheres esclarecidas não sabem o que é a episiotomia e precisam ser informadas sobre os riscos e benefícios de qualquer procedimento antes, durante e após o parto.

Lima explica que as gestantes de baixo risco são atendidas na casa de parto normal do Sofia Feldman e que só são removidas para a maternidade se desejam anestesia ou caso haja algum tipo de complicação, quando passam a ser atendidas por obstetras. O diretor clínico diz ainda que a violência obstétrica deixa de existir se as mulheres estão sempre acompanhadas de sua família durante o período que estão no hospital. “Não deveria nem ter lei para isso. Basta ver os resultados e os benefícios que traz a mulher estar acompanhada”, diz.

A maternidade de Belo Horizonte é filantrópica e atente pacientes apenas pelo SUS (Sistema Único de Saúde). O hospital, que é referência no país em parto humanizado, também recebe gestantes de alto risco e, por esse motivo, as taxas de cesáreas chegam a 25%, índice considerado baixo já que nas maternidades particulares do país a taxa é de 90% e, do SUS, de 52%. A unidade faz cerca de 940 partos por mês e é a com maior número de partos do país.

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